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Foto do escritorLucas Figueiredo de Melo

A utilização do BIM na documentação, gestão e preservação da Arquitetura Moderna no Recife

por Lucas Figueiredo de Melo


Introdução

A pesquisa proposta visa contribuir com uma reflexão aprofundada sobre o processo de reconhecimento e conservação da arquitetura moderna no Recife, através do debate referente ao controle e gestão da documentação nos acervos dos órgãos fiscalizadores do patrimônio arquitetônico moderno da cidade com a utilização de ferramentas digitais que trabalhem no contexto do conceito do Building Information Modeling (BIM).

No Recife, dos 258 Imóveis Especiais de Preservação (IEPs) atuais, apenas 3 são residências unifamiliares de arquitetura moderna: os IEPs de números 255 e 256 localizados na Avenida Conselheiro Rosa e Silva, 625 – Graças, residências projetadas pelo arquiteto Augusto Reynaldo, e o IEP número 257, localizado na Avenida Dezessete de Agosto, 206 – Parnamirim, residência projetada pelo arquiteto Hugo Marques. Para Amorim (1999), percebe-se uma grande lacuna no conjunto de imóveis preservados, notavelmente no que diz respeito à exclusão de residências unifamiliares modernas, sobretudo quando se considera que esse é um dos tipos mais expressivos da produção modernista local. Infelizmente, essa lacuna tem levado a um processo de demolição e descaracterização de imóveis da produção modernista local de qualidades únicas.

O debate sobre a metodologia BIM e sua interface com a gestão, os processos, as políticas e as tecnologias relacionadas à preservação do patrimônio, através da documentação e digitalização dessas obras em modelos digitais baseados no conceito do Building Information Modeling (BIM), tem se revelado como uma mudança de paradigma na gestão da preservação do patrimônio arquitetônico (Amorim 2007). Desta forma, o uso dessa tecnologia abre portas para uma investigação mais aprofundada no que diz respeito aos benefícios de sua utilização no campo da conservação do patrimônio arquitetônico.


Objetivo

O objetivo da pesquisa é contribuir com uma reflexão acerca do processo de reconhecimento e conservação da arquitetura moderna recifense, por meio do debate referente ao controle e gestão da documentação nos acervos dos órgãos fiscalizadores do patrimônio arquitetônico moderno com a utilização de ferramentas digitais que trabalhem no contexto do conceito BIM.

Serão pesquisados os conteúdos relacionados ao tema da arquitetura moderna no Recife, a conservação patrimonial da arquitetura moderna e suas dificuldades, a forma de cadastro e documentação dessas edificações, além da pesquisa em torno da metodologia BIM e sua interface com a gestão, os processos, as políticas e as tecnologias relacionadas à preservação do patrimônio arquitetônico. Serão avaliadas as vantagens e desvantagens e como o instrumento da documentação digital com as novas tecnologias poderá contribuir em uma otimização da gestão dos acervos, da fiscalização do patrimônio, além da possível ampliação de imóveis a serem salvaguardados com tais tecnologias. Por conseguinte, a intenção é, além de estudar os processos de documentação e gerenciamento dos acervos do patrimônio arquitetônico, trazer uma análise acerca da gestão e preservação da arquitetura moderna no Recife, através do uso do BIM para o gerenciamento de todo o ciclo de vida dos edifícios pelos órgãos de fiscalização e controle do patrimônio arquitetônico.

Em consonância com os conceitos e práticas que envolvem a metodologia BIM, a fim de tornar o processo de documentação mais condizente com as novas demandas da sociedade, propõe-se a aplicação das ferramentas inseridas nessa tecnologia para a discussão do processo de documentação e preservação da arquitetura moderna na cidade do Recife, o que pode contribuir para uma gestão mais eficiente, uma manutenção mais eficaz e para uma preservação do Patrimônio arquitetônico mais efetiva. Como exemplo, será proposta a documentação seguindo o conceito BIM dos IEPs referentes aos exemplares da arquitetura residencial modernista da cidade do Recife, por se tratarem de edifícios em estado de conservação precária, segundo a Diretoria de Preservação do Patrimônio – DPPC.

Desta forma, a pesquisa possuirá um caráter multidisciplinar, pois será baseada no estudo das tecnologias digitais mais atuais referentes ao levantamento e ao gerenciamento dos dados provenientes dos acervos da cidade, além do conteúdo relacionado à preservação do patrimônio arquitetônico moderno no Recife, com destaque para as residências modernistas, visando o debate sobre a possibilidade de inclusão de outros exemplares da arquitetura moderna recifenses como IEPs, a partir de um melhor gerenciamento dessas edificações e de uma maior conscientização por parte da população quanto à preservação do patrimônio moderno da cidade.


Fundamentação Teórica

De acordo com a Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC), setor integrante da Secretaria de Planejamento Urbano (SEPLAN), dos 258 Imóveis Especiais de Preservação (IEPs) atuais, apenas 3 são residências unifamiliares de arquitetura moderna: os IEPs de números 255 e 256 localizados na Avenida Conselheiro Rosa e Silva, 625 – Graças, residências projetadas pelo arquiteto Augusto Reynaldo, e o IEP número 257, localizado na Avenida Dezessete de Agosto, 206 – Parnamirim, residência projetada pelo arquiteto Hugo Marques.

A criação do instrumento dos Imóveis Especiais de Preservação proporcionou a preservação de contribuições para o patrimônio edificado da cidade. Entretanto, segundo Amorim (1999), percebe-se uma grande lacuna no conjunto de imóveis preservados, notavelmente no que diz respeito à exclusão de residências unifamiliares modernas, sobretudo quando se considera que esse é um dos tipos mais expressivos da produção modernista local. Infelizmente, essa lacuna tem levado a um processo de demolição e descaracterização de imóveis da produção modernista local de qualidade singular.

Para Amorim (1999), a pequena seleção de residências modernas no Recife como IEPs se deu a partir do momento da pré-seleção desses imóveis, devido a escassa bibliografia publicada sobre a experiencia moderna recifense naquele momento. Além disso, a falta de conscientização dos proprietários e da prefeitura acerca da singularidade de tais obras propiciou a demolição e a descaracterização de diversos exemplares dessa arquitetura.

Exemplares significativos de residências modernistas ficaram de fora da seleção segundo Amorim (1999), como a residência Miguel Vita, projetada em 1958 pelo arquiteto Delfim Amorim e seu colaborador à época, arquiteto Armindo Leal; a residência Emir Glasner projetada pelo arquiteto Vital Pessoa de Melo, em 1972; e o conjunto residencial Dália da Silveira, nas suas duas tipologias térrea e triplex, de autoria dos arquitetos Glauco Campello e Armando Holanda, projetadas no final do anos 60, dentre outros.

Ainda de acordo com Amorim (1999), as residências modernas no Recife devem ser preservadas sob a ótica de três aspectos: (i) representam a expressão das transformações nos modos de morar da cidade com arranjos espaciais menos controlados por regras de conduta social, (ii) caracterizam-se como um canteiro para experiencias técnico-construtivas baseado no projeto residencial de classe média emergente, (iii) apresentam-se como exemplares maiores de uma escola regional estabelecida a partir da união dos valores da tradição luso-brasileira com as proposições renovadoras da arquitetura moderna, a qual alguns autores se referem como a escola do Recife (Bruand, 1981).

Diversos são os motivos para a arquitetura moderna recifense ser salvaguardada, em especial, as residências modernistas pelos aspectos citados, pois “a não-conservação priva a sociedade das suas raízes, da sua identidade e também do conhecimento, elementos indispensáveis ao processo de criação e, portanto, de inovação” (LACERDA, 2012, p.52).

O debate acerca da conservação das residências de arquitetura moderna é bastante pertinente, uma vez que é necessária uma fundamentação teórica para a salvaguarda desses bens. Porém, o debate deve ser trazido ao conhecimento da população para garantir a salvaguarda do patrimônio arquitetônico, pois somente os instrumentos legais de salvaguarda não garantem a integridade dos bens patrimoniais de nossa arquitetura. Portanto, o estudo sobre a documentação do patrimônio arquitetônico moderno se faz necessário, a partir de um aprofundamento e maior detalhamento, pois com os avanços tecnológicos a documentação passa a desempenhar um papel decisivo na salvaguarda e na preservação da memória do patrimônio arquitetônico. Ademais, tal documentação se constitui em instrumento básico nas ações e projetos de conservação e restauro do patrimônio edificado (Amorim 2007).

Adotando o conceito de que o BIM (Building Information Modeling) é um conjunto interrelacionado de políticas, processos e tecnologias que geram uma metodologia para gerenciar a essência de projeto da edificação/construção e dados associados num formato digital, em todo ciclo de vida da edificação (Succar, 2009), pode-se concluir que o seu uso vem mudando a concepção, o processo de projeto, o planejamento, a execução, a operação e a manutenção de edifícios. Deste modo, não só para o projeto de novos edifícios esse conceito possui utilidade, mas também para a documentação e manutenção do patrimônio arquitetônico construído, sendo extremamente importante para o debate referente as formas de documentação, gerenciamento e conservação do patrimônio arquitetônico.

Metodologia

Primeiramente, se fará o levantamento da bibliografia e fontes secundárias como livros, teses e artigos relacionados aos temas da arquitetura moderna e do patrimônio arquitetônico moderno na cidade do Recife, além dos temas da conservação patrimonial da arquitetura moderna no Brasil.

Em seguida, o levantamento histórico-documental de fontes primárias escritas e iconográficas, dentre outros documentos referentes aos projetos, ao estado de conservação e demais informações sobre os imóveis de arquitetura moderna na cidade do Recife em órgãos ou instituições públicas ou privadas detentoras desses documentos. A partir disso, serão feitas visitas de campo para confrontação das informações fornecidas, reconhecimento das edificações, verificação do estado de conservação e registros fotográficos.

Serão pesquisados os métodos de classificação das edificações modernas como IEPs e a metodologia utilizada para o cadastramento e possível digitalização do acervo referente aos projetos desses edifícios.

A pesquisa consistirá também no levantamento das boas práticas para a documentação, divulgação e gerenciamento de modelos BIM aplicados a conservação e promoção do patrimônio arquitetônico, com atenção especial aos referentes à arquitetura moderna e suas particularidades.

Por fim, será construído virtualmente em plataforma BIM os três exemplares de IEPs referentes às residências unifamiliares de arquitetura moderna no Recife, onde serão definidas quais informações e nível de detalhe (LOD, Level of Detail) o modelo geométrico irá possuir, a fim de ser útil no debate acerca da documentação digital e preservação da arquitetura moderna residencial no Recife, e que seja usado durante todo o ciclo de vida da edificação no que se refere a sua conservação e seu gerenciamento pelos órgãos de fiscalização e controle do patrimônio arquitetônico, em especial a DPPC.


Referências

AMORIM, A. L. Documenting architectural heritage in Bahia - Brazil, using digital tecnologies. In: CIPA SYMPOSIUM, 21., 2007, Atenas. Anais… AntiCIPAting the future of the cultural past. Atenas: National Technical University of Athens, 2007. v. 1. p. 61-66.

AMORIM, Luiz Manuel do Eirado. Trocando gato por lebre: quando os instrumentos legais de preservação não preservam o que deve ser preservado. In: SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL, 3, 1999, São Paulo. Anais. São Paulo: DOCOMOMO, 1999. Disponível em: < http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/Luiz_amorim.pdf>. Acesso em: 15/10/2018.

Bruand, Y. (1981). Arquitetura Contemporânea do Brasil.São Paulo: Editora Perspectiva S.A.

LACERDA, Norma. Valores dos bens patrimoniais. In: LACERDA, Norma; ZANCHETI, Silvio Mendes. Gestão da conservação urbana: Conceitos e métodos. Olinda: Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada, 2012.

SUCCAR, B. Building Information Modelling Framework: A research and delivery foundation for industry stakeholders. Automation in Construction, [S.I], n.18, p.357-375, 2009.

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